quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Quimbanda audiobook parte 04










O Diabo e a Quimbanda
Definitivamente, Kimbanda não é o culto ao diabo, entretanto, quando observamos o culto Bantu da Kimbanda como resistência ao escravismo, a Igreja Católica e à corrupção sociocultural, entendemos que se trata de um culto opositor. Incompreendido, tornou-se uma vertente diabólica completamente corrompida.
Nós, apesar de propagarmos a Quimbanda, entendemos que o nome é apenas uma forma de agradecer, glorificar e dar continuidade ao legado dos índios, negros e feiticeiros europeus pelo embate que fizeram a uma religião onde os opositores eram os verdadeiros escravos. Tudo que acreditamos foi construído pelo sangue dos nossos antepassados, baseados na mistura de suas crenças, de seus temores e amores. Somos aqueles que deram continuidade à tradição dos totens macabros, às estátuas com chifres e rabos e aos feitiços que corrompiam a estrutura de uma fé. Não queremos o retorno da pureza, pois vivemos em estado de embate diariamente e necessitamos da força dos espíritos antepassados para impingirmos o medo, o pânico e a fobia nos descendentes dos colonizadores. Quimbanda é a religião da Liberdade!
A Quimbanda não é e nunca será uma prática da Umbanda, pois não aceitamos os ideais de embranquecimento ditados pela mesma. Pouco nos importamos com o que acham das nossas práticas aparentemente populares e edificamos o ideal esotérico de que a Quimbanda é uma expressão do “Mal”, principalmente pelo fato de acreditarmos que o “Mal” vence as ilusões e age como opositor das correntes morais e éticas que adoecem o livre pensar e viver. Se o cristianismo é a 'religião dos bons e puros', a Quimbanda é a religião da evolução e do desprendimento. Os fracos de espírito jamais entenderão a dimensão de seu estado de escravo dentro do regime opressivo.
Somos a codificação do popular, a voz dos revoltados, a mais profunda escuridão e o mistério da lágrima dos cativos. O verdadeiro adepto possui o fogo desses ancestrais dentro de si, suas almas são vermelhas e pretas, não só pelo urucum e pelo jemoúna, mas em alusão a Satanás, o 'grande' inimigo cristão (características herdadas de Deuses como Seth, Pan e Saturno). Seus olhos enxergam no escuro e sua fé é no poder de manter distante de si tudo que pode atrapalhar a liberdade de viver aquilo que entende como sendo correto. Somos o legado dos caldeirões e o resultado da evolução tribal que não perdeu a chama da vingança.
A Quimbanda se diferencia do culto aos Orixás pelo fato de não usar as forças da natureza para alcançar suas metas e desejos, mas sim a força ancestral do mundo dos mortos. Espíritos sábios e repletos de força são chamados através das práticas religiosas para intervir na vida e no destino de seus assistidos. Geralmente os espíritos que trabalham na corrente da Quimbanda são antigos Xamãs, Mestres Caboclos, Bruxos, Alquimistas, Feiticeiros, Guerreiros, Assassinos, dentre outros que se encaixam na vibração energética do culto exercendo suas forças nas linhas de Exu e Pombagira (consorte feminino).
Exu é o ícone da Quimbanda, não está nem a direita, nem a esquerda de ninguém, pois possui duas cabeças no mesmo corpo. É um nome e um título que vem acompanhado de uma alcunha, um poder ou associado a ancestralidade. Foi empurrado para dentro do lago de enxofre do inferno cristão tornando-se agente do maleficio, confundido com Alma, humanizado e dividido por funções.
Somos a mistura dos Pajés, Mulôjis com as feiticeiras Boca Torta, Nóbrega, Arde-lheo-rabo, Mija vinagre, dentre tantas outras. Nossos diabos alimentam-se das nossas chagas em troca da verdadeira Luz.

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Alfavaca

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