O Diabo e a Quimbanda
Definitivamente, Kimbanda não é o culto ao diabo,
entretanto, quando observamos o culto Bantu da Kimbanda como resistência ao
escravismo, a Igreja Católica e à corrupção sociocultural, entendemos que se
trata de um culto opositor. Incompreendido, tornou-se uma vertente diabólica
completamente corrompida.
Nós, apesar de propagarmos a Quimbanda, entendemos que o
nome é apenas uma forma de agradecer, glorificar e dar continuidade ao legado
dos índios, negros e feiticeiros europeus pelo embate que fizeram a uma
religião onde os opositores eram os verdadeiros escravos. Tudo que acreditamos
foi construído pelo sangue dos nossos antepassados, baseados na mistura de suas
crenças, de seus temores e amores. Somos aqueles que deram continuidade à
tradição dos totens macabros, às estátuas com chifres e rabos e aos feitiços
que corrompiam a estrutura de uma fé. Não queremos o retorno da pureza, pois
vivemos em estado de embate diariamente e necessitamos da força dos espíritos
antepassados para impingirmos o medo, o pânico e a fobia nos descendentes dos
colonizadores. Quimbanda é a religião da Liberdade!
A Quimbanda não é e nunca será uma prática da Umbanda, pois
não aceitamos os ideais de embranquecimento ditados pela mesma. Pouco nos
importamos com o que acham das nossas práticas aparentemente populares e
edificamos o ideal esotérico de que a Quimbanda é uma expressão do “Mal”,
principalmente pelo fato de acreditarmos que o “Mal” vence as ilusões e age
como opositor das correntes morais e éticas que adoecem o livre pensar e viver.
Se o cristianismo é a 'religião dos bons e puros', a Quimbanda é a religião da
evolução e do desprendimento. Os fracos de espírito jamais entenderão a
dimensão de seu estado de escravo dentro do regime opressivo.
Somos a codificação do popular, a voz dos revoltados, a mais
profunda escuridão e o mistério da lágrima dos cativos. O verdadeiro adepto
possui o fogo desses ancestrais dentro de si, suas almas são vermelhas e
pretas, não só pelo urucum e pelo jemoúna, mas em alusão a Satanás, o 'grande'
inimigo cristão (características herdadas de Deuses como Seth, Pan e Saturno).
Seus olhos enxergam no escuro e sua fé é no poder de manter distante de si tudo
que pode atrapalhar a liberdade de viver aquilo que entende como sendo correto.
Somos o legado dos caldeirões e o resultado da evolução tribal que não perdeu a
chama da vingança.
A Quimbanda se diferencia do culto aos Orixás pelo fato de
não usar as forças da natureza para alcançar suas metas e desejos, mas sim a
força ancestral do mundo dos mortos. Espíritos sábios e repletos de força são
chamados através das práticas religiosas para intervir na vida e no destino de
seus assistidos. Geralmente os espíritos que trabalham na corrente da Quimbanda
são antigos Xamãs, Mestres Caboclos, Bruxos, Alquimistas, Feiticeiros,
Guerreiros, Assassinos, dentre outros que se encaixam na vibração energética do
culto exercendo suas forças nas linhas de Exu e Pombagira (consorte feminino).
Exu é o ícone da Quimbanda, não está nem a direita, nem a
esquerda de ninguém, pois possui duas cabeças no mesmo corpo. É um nome e um
título que vem acompanhado de uma alcunha, um poder ou associado a
ancestralidade. Foi empurrado para dentro do lago de enxofre do inferno cristão
tornando-se agente do maleficio, confundido com Alma, humanizado e dividido por
funções.
Somos a mistura dos Pajés, Mulôjis com as feiticeiras Boca
Torta, Nóbrega, Arde-lheo-rabo, Mija vinagre, dentre tantas outras. Nossos
diabos alimentam-se das nossas chagas em troca da verdadeira Luz.
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