quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Quimbanda audiobook parte 02








O Diabo na África
O continente africano sempre foi objeto de cobiça e disputa pelos povos. A história marca como o princípio, o estabelecimento dos povos fenícios por volta do século X a.C. Posteriormente, gregos, romanos, vândalos, árabes e por fim, entre os séculos XIII e XIV, os Estados formados na Europa. Toda essa influência certamente moldou muitos aspectos religiosos, entretanto, focamos no período de colonização europeia, pois foi quando as palavras Diabo, Demônio', 'Satanás, Beelzebuth'e ‘Lúcifer’adentraram efetivamente nesses territórios.
Junto aos primeiros exploradores/colonizadores europeus que fizeram suas incursões na África, estiveram sacerdotes cristãos (Missionários). O primeiro impacto que os mesmos tiveram ao encontrarem os povos nativos foi que aquela terra era regida por forças malignas e que transpirava pecado. Temperaturas elevadas, pessoas negras, nudismo, poligamia, grandes animais selvagens, território hostil e deuses cultuados com sacrifício animal. De todos os Deuses africanos (para os sacerdotes cristãos todos eram formas atrasadas), destacou-se Esú. Esse Deus de origem Yorubá é o princípio da comunicação entre o Aiyè (astral) e o Orum (material) dos homens e dos deuses. Simboliza o crescimento, a mudança e a força dinâmica de toda criação
Entretanto, esse Deus, chamado pelos povos Fons de Elegbara representava força motriz dinâmica e, dentre seus símbolos, destacavam-se as formas fálicas associadas às atividades sexuais. Foi exatamente isso que mais escandalizou os primeiros exploradores e sacerdotes missionários.
Sangue de sacrifício, pessoas de pele negra, ambiente selvagem e por vezes hostil, nudismo, falta de concepção de pecado e um Deus fálico que regula toda essa força. Resultado: Esú era o Príapo africano; uma das formas de Satanás e seus anjos caídos e, consequentemente, o ódio, maldade e perversidade que iam de encontro ao ‘misericordioso deus cristita'.
"Os negros reconhecem em Sată o poder da possessão, pois o denominam comumente Elegbara, isto é, aquele que se apodera de nós.” (Pierre Bouche, La Côte des Esclaves et le Dahomey. Paris, 1885)
"O chefe de todos os gênios maléficos, o pior deles e o mais temido, é Exu, palavra que significa o rejeitado; também chamado Elegbá ou Elegbara, o forte, ou ainda Ogongo Ogó, o gênio do bastão nodoso.” (R. P. Baudin - Fétichisme e féticheurs)
Dentro do próprio território africano, antes do negro ser escravizado para as terras do 'Novo Mundo', Èsú, assim como Elegbara (correlato Fon) foi considerado o propagador do mal, das doenças e discórdias. Dessa forma acabou se tornando uma espécie de “bode expiatório” dos locais. A frase 'Eshu l'o ti mi' (Exu que me impeliu) começou a ser usada pelo povo como desculpa por erros praticados. Esse conceito de que forças malignas impingem o homem à realização de atos fora dos padrões aceitos já era o preâmbulo da grande influência da Igreja Católica.

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