Laroyê Exu! Exu é Mojubá!
A palavra exu, por si só, dita entre um grupo de amigos no
trabalho ou até mesmo nos programas de televisão gera rápida associação com
algo ruim, seja maligno ou simplesmente não desejado.
É comum encontrar uma pessoa não ligada à religião dizer:
“Sai exu! Chuta que é macumba”!
Contudo, mesmo que os adeptos das religiões afro-brasileiras
insistam com seus interlocutores que exu não é algo maligno alguns destes
religiosos não conseguem expor com exatidão porque exu possui esta forte
conotação pejorativa.
A explicação corriqueira é seguida de frases como:
“Exu fala na cara e a verdade dói. Por isso, o povo fala que
exu não presta”;
“Dizem que exu é o diabo porque não conhecem a religião.
Se conhecessem, não diriam isso. Exu é Guardião”.
Afirmações deste tipo não nos esclarece o motivo e, talvez,
a origem de tão reforçada vinculação de exu, orixá ou entidade de trabalho,
como dizem os praticantes de Quimbanda, com o diabo católico.
A analogia entre exu e o diabo católico possui raízes mais
profundas do que imaginamos. Por conta da análise histórica do bispo anglicano
Crowther revelamos que o fato também é gerado dentro da sociedade iorubana há
séculos.
Uma informação muito importante aos irmãos de fé que ainda
não estão cientes desta funcionalidade.
O google tradutor possui a língua ioruba como opção.
Sim, podemos acessar o google tradutor, digitar uma palavra
em ioruba, por exemplo, ori, que teremos como tradução em português: cabeça.
Contudo, digitando a palavra Esù (grafia mais aproximada do
ioruba) teremos a tradução: diabo.
Explicarei um dos fatos fundamentais que levou e ainda leva
grande parte da população a relacionar Exu com o diabo católico.
Não existe um fato isolado na história da humanidade que
vincule a imagem de exu ao diabo católico.
Podemos dizer que uma sucessão de acontecimentos gerou esta
associação.
Entretanto, um fato histórico documentado é de extrema
importância para o estudo da origem associativa de exu com o diabo.
Quando digo exu estou me referindo ao Orixá Exu, divindade
mensageira e primordial junto ao grupo etnolinguístico africano de nome ioruba
e também me referindo às suas demais associações em outros meios religiosos como,
por exemplo, as manifestações em transe mediúnico de entidades espirituais
denominadas como Linhas de Trabalho de Esquerda para algumas escolas
umbandistas e de Quimbanda, que são chamadas também pelo nome de exu.
Para isto, precisamos conhecer a história de um nigeriano
chamado Samuel Ajayi Crowther.
Samuel Ajayi Crowther nasceu no ano de 1809 na Nigéria,
povoado de Oxogun que, na época chamava-se Iorubalândia.
Aos 13 anos de idade, sua cidade foi invadida por caçadores
de escravos.
Acredita-se que estes caçadores eram de origem Fulani e Oyos
que se converteram ao islamismo, fato muito comum na África.
A conversão para o catolicismo, protestantismo e islamismo é
muito grande até os dias de hoje.
A invasão, contou Crowther em suas memórias, foi brutal.
Incendiaram casas, perseguiram os cidadãos que eram parados
por meio de pancadas e conduzidas por meio de correntes presas ao pescoço.
Disse ainda que, os incapazes eram mortos aumentando o
desespero, tendo em vista que as famílias eram dizimadas e os vínculos
perdidos.
De uma hora para outra, parte de sua família e amigos eram
açoitados e mortos deixando crianças sem pais para serem vendidas e utilizadas
como mão-de-obra escrava do outro lado do oceano.
Na época, era uma vida sem volta.
Só havia sofrimento e dor.
Samuel, comercializado por seis vezes, foi entregue a um
grupo de portugueses que praticavam o tráfico de escravos intercontinental.
Estes traficantes colocaram seu grupo de escravos africanos
dentro de seu navio negreiro e partiram rumo ao continente americano.
Possivelmente, Brasil.
Contudo, este navio negreiro foi interceptado pela marinha
britânica em abril de 1822 e conduzido à região de Serra Leoa, região muito
distante de sua terra natal.
Os africanos integrantes do grupo resgatado viram-se
desorientados por aportar em região desconhecida, mesmo estando no mesmo
continente.
Em Serra Leoa, Crowther deu início a uma nova vida.
Não por opção, mas por necessidade.
Era uma questão de sobrevivência.
Passados três anos em Freetown (África), converteu-se ao
cristianismo.
Sobre esta experiência, escreveu:
"sobre o terceiro ano da minha libertação da escravidão
do homem, eu estava convencido de outro estado pior de escravidão, ou seja, a
do pecado e de Satanás.
Aprouve ao Senhor abrir meu coração(...)
Eu fui admitido na Igreja visível de Cristo aqui na terra
como um soldado para lutar bravamente sob sua bandeira contra nossos inimigos
espirituais."
Podemos notar facilmente que Crowther enxergava-se como um
religioso que tinha uma grande missão, lutar bravamente sob a bandeira do
Senhor contra nossos inimigos espirituais.
Em 11 de dezembro de 1825, Ajayi foi batizado pelo Reverendo
John Rahan, integrante da Sociedade Missionária Anglicana.
Depois do batismo, adotou o nome Samuel Crowther em
homenagem a uma grande figura desta mesma sociedade religiosa e que usava o
mesmo nome.
Passou alguns anos em Serra Leoa estudando inglês e ganhou
destaque entre os missionários recebendo o cargo de inspetor de alunos.
Não podemos negar que Crowther era inteligente, esforçado e
dedicado à sua religião.
Mesmo não estando o clero britânico em concordância com esta
situação, Crowther tornou-se o primeiro bispo negro no ano de 1864.
Neste mesmo ano, Crowther concluiu seu doutorado pela
Universidade de Oxford.
Antes de Crowther, a língua ioruba não tinha grande
importância para os ingleses.
O intuito era ensinar o inglês.
Contudo, tal abordagem não se mostrara tão eficaz quanto a
de Crowther que, com grande esforço, catalogava e traduzia os ensinamentos da
igreja para as línguas locais.
Logo, o ioruba passou a ser a língua mais falada em Serra
Leoa.
Juntamente com o reverendo Rahan, Crowther publicou três
livros sobre o Ioruba.
Em 1843 publicou um livro intitulado Vocabulário Ioruba com
o estudo gramatical da língua e sua estrutura.
Durante toda sua vida como religioso cristão, Crowther
dedicou-se à tradução da Bíblia para a
língua ioruba.
A Bíblia em ioruba, Bibeli Mimá, foi publicada na década de
1880.
Assim, chegamos ao ponto do trabalho de Crowther que nos
influencia até os dias de hoje.
Crowther, para que os iorubanos entendessem a religião
cristã e seu novo testamento forçou algumas analogias.
Podemos notar que no evangelho de Mateus, cuja reprodução
encontra-se no material em anexo, capítulo 4 (na Bíblia em ioruba consta como
ori 4), versículo 1 (primeira frase) consta:
“Em seguida, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para
ser tentado pelo diabo”.
Crowther torna oficial a tradução de Exu para diabo,
satanás.
Todo o povo ioruba que manteve contato com as obras dele,
bem como todo o clero da Igreja Anglicana, passa a utilizar a palavra Exu para
designar o diabo.
Havia um homem, Crowther, bispo anglicano e com doutorado em
Oxford que fundamentava esta associação.
Sabemos que a tradução de um livro extenso como a Bíblia
exige um certo número de pessoas.
De certo, Crowther possuía colegas de trabalho ou ajudantes
com o qual mantinha constante diálogo e troca de opiniões sobre as palavras
corretas a serem utilizadas para compor a tradução de um livro tão sagrado
quanto a Bíblia.
Para um bispo, a subversão dos ensinamentos de Deus era um
sacrilégio.
Assim, Crowther agiu de acordo com suas crenças, de acordo
com suas lembranças e nunca saberemos o real motivo desta indicação.
Não sabemos com exatidão se utilizou o sincretismo porque
considerava Exu o diabo ou porque esta era a única solução que encontrou para
demonstrar ao povo ioruba a essência do que estava ali escrito.
Por exemplo, Crowther traduziu Deus como Olorum.
Contudo, não traduziu Jesus como Oxalá.
Manteve aquilo que lhe era sagrado intacto e transformou os
demais conceitos em material compreensível ao povo ioruba.
O sincretismo de Exu com o diabo, neste caso, ocorreu de
fora da religião para dentro.
Será que a Bíblia que nos é apresentada hoje, após inúmeras
traduções realizadas das diversas línguas originais de seus textos, é
fidedigna?
Cremos que não.
O que foi perdido ou subvertido?
Os sacerdotes africanos participantes das religiões de culto
aos antepassados, das regiões de Angola e do Congo, chamados de Kimbanda e
Nganga, respectivamente ao manterem contato com os colonizadores europeus
traziam no seu imaginário os conceitos de feitiçaria e práticas mágicas e
acabou por ressignificar os seus costumes religiosos.
Os sacerdotes desses cultos, acabaram sendo vistos como
feiticeiros e praticantes de magias negras.
Ao lado desse rótulo externo, os cultos, dirigidos pelo
Kimbanda e Nganga, foram se transformando, através de uma dinâmica cultural com
as religiões e religiosidades europeias e indígenas, gerando cultos como a
cabula, o calundu e a macumba, que no século XX, formaram matrizes religiosas
como a Umbanda.
Pelas sete estrelas que escurecem o firmamento, pelo
despertar dos gigantes que adormecem abaixo dos vulcões, pelas lagrimas de
sangue que escorrem dos meus olhos, estarei sempre em ti, jorrando as aguas adocicadas
do eterno saber.
Sou a volúpia do seu espirito enegrecido e as sensações de
prazer que vives em tuas vitorias.
Sou o anoitecer doa amantes e a harpa dos iludidos, sou o
princípio e o fim dos poucos que possuem espirito.
Sou a águia negra que te enxerga do alto e a serpente
invisível que lhe espreita em todas as horas.
Sou a Coroa e o Cetro.
Sou Maioral de todos os Infernos!
https://www.zazzle.com/z/1rssw?rf=238480071293627049
Samuel Ajayi Crowther Giant Coffee Mug
by pornfake
Nenhum comentário:
Postar um comentário