A Hierarquia de Exu
Os antigos livros que relatavam a hierarquia de Exu, sob
nosso ponto de vista, são contaminados pela mentalidade "diabólica
crista" dos escritores umbandistas que correlacionavam os “Exus-Egúns” com
demônios descritos nos “Grimórios Inquisitores”. O tempo passou, mas o conceito
continua contaminado, afinal, escritores mais modernos, mesmo tendo acesso a
uma gama muito maior de material para estudo, alegam que os Exus são os
mensageiros desses demônios e que possuem livre acesso pelos domínios dos
mesmos.
A Quimbanda Brasileira tem verdadeira quizila de tais
escritores pelo retrocesso espiritual que impingiram na sociedade mundial. O
erro está tão entranhado que dificilmente será revertido, porém, nossa gnose
nos permite lutar contra esse absurdo através da palavra que liberta os homens:
A Sabedoria!
Demônios são inteligências que não possuíram existência
encarcerada nos invólucros materiais. Não são “presos” na rede de reencarnações
e na sua grande maioria, são grandes espíritos demonizados pelas igrejas ao longo
do processo de conquista territorial, afinal, um Deus vencido na guerra
torna-se o culpado por todo sofrimento de seu povo e, posteriormente, ocupa
lugar nas trevas destinadas aos demônios.
Entendendo esse conceito, fica difícil correlacionar
espíritos humanos que se elevaram nas correntes de Exu e Demônios. Algumas
características podem até ser similares, porque antes dos Exus serem
demonizados, erroneamente existiu a classificação dos Demônios por atributos
materiais e esotéricos. Percebemos que o contato com os demônios pode ocorrer
nos planos astrais e, dependendo do grau evolutivo que o espírito esteja, advém
um aprendizado muito valioso. A Quimbanda Brasileira crê que antigos deuses
obscurecidos capacitam os Exus suportarem o acúmulo de matéria mental negativa
e usarem essas energias para a ascensão de seus domínios e poderes.
Antes de adentrar na hierarquia de Exu, devemos compreender
a formação e o funcionamento dos sete primeiros “Tronos" passivos e
ativos. Antes de tudo, vale ressaltar que os Sete Reinos da Quimbanda foram
compostos após a formação do mundo material como figura de embate ao cíclico
sistema cósmico de reencarnação e escravismo das almas ígneas. “Maioral” é um
Ser criado a partir de um grande esforço feito pelos regentes supremos dos
quatro elementos que rasgaram e separaram suas próprias essências para então reuni-las
sob a forma de um Grande Imperador.
A função primordial de sua existência é proporcionar o
desequilíbrio no frágil ordenamento através da escalada espiritual dos espíritos
obscuros dentro dos espaços astrais denominados “Sete Reinos da Quimbanda”.
Muitos espíritos já se manifestaram nas correntes
espiritualistas com o nome de Maioral, entretanto, todos esses espíritos são
parte de um engendrado sistema ilusório imposto para fazer o "Sagrado
Nome” ser desacreditado e escarnecido pelos que buscavam forças dentro do culto
aos espíritos da noite. Essa estratégia de contenção fez com que a verdadeira
essência de Maioral fosse esquecida e que a Quimbanda se transformasse em uma
religião marginalizada.
Uma informação muito importante a todos os adeptos é que
Maioral jamais saiu de seu Trono! Os que alegam incorporá-lo ou são charlatões
ou são esquizofrénicos alimentados por grupos de analfabetos espirituais.
Como Maioral possui as duas polaridades dentro de sua
composição (dinâmica e receptiva), após um longo tempo de preparo, desdobrou-se
como em um processo de meiose- formando os sete primeiros “Tronos” da
Quimbanda. Esses sete primeiros seres são chamados de “Grandes Reis”. Esses,
desdobram-se formando suas consortes: As sete "Grandes Rainhas”.
Grande Rei e Rainha das Encruzilhadas; Grande Rei e Rainha
do Cruzeiro; Grande Rei e Rainha das Almas; Grande Rei e Rainha da Kalunga;
Grande Rei e Rainha das Matas; Grande Rei e Rainha da Lira; Grande Rei e Rainha
das Praias.
Através dos incessantes impulsos construtivos e destrutivos
provindos da consciência do Imperador Maioral, esses casais foram formando e
modelando os Reinos e Sub-Reinos da Quimbanda. Estabeleceram novos "Tronos”
subalternos e iniciaram a busca pelos espíritos que iriam compor essa armada.
Dentro do próprio campo astral, foram selecionados espíritos que possuíam a
chama negra, chamada de “Luz Luciférica”, para serem os pilares dessa expressão
religiosa fragmentada. Esses espíritos receberam toda gnose que compunha os
Grandes Reis tornando-se "Poderosos Mortos”.
Os "Grandes Reis e Rainhas” nomearam os "Poderosos
Mortos” para regerem, evoluírem e prepararem uma “nova religião” que se
infiltraria dentro de todas as vertentes afro que estavam em formação no
território brasileiro. A Quimbanda, não é apenas a corrupção gráfica da palavra
“Kimbanda”, derivada do dialeto
Quimbundo ou a decomposição de outra religião, a Quimbanda
foi a “Porta Astral” que as forças de embate encontraram para se infiltrar e
exercer seus impulsos visando a libertação das almas encarceradas.
Alguns umbandistas vislumbraram esse abalo espiritual e
tentaram relatar em suas obras, todavia, com suas visões limitadas pelos véus
da cósmica ignorância, não entenderam a real função dessa corrente libertadora.
Um exemplo disso está na obra de um umbandista que usa a alcunha de “Mestre
Itaoman" - “Pemba: a Grafia Sagrada dos Orixás” que em um dos seus trechos
relata:
"Ergueu-se, assim, dos confins do Reino das Sombras,
sob o impulso do ódio de uma das partes e da maldade da outra, do sangue
derramado pelos dois lados, uma “Corrente Maléfica”, que atraiu os piores Magos
Negros de todas as épocas, formando-se a “Kimbanda", que é o ponto de
perversidade das raças martirizadas.”
A Quimbanda não se trata apenas de uma corrente maléfica que
elegeu um culto à perversidade como o autor descreveu. O “mal” que habita na
Quimbanda é usado como valor positivo, pois entendemos que os valores éticos e
morais, estabelecidos ao homem como “boas virtudes” são formas escravistas ante
evolutivas, causadoras de distúrbios comportamentais irreparáveis. A maldade,
sob nosso entendimento, trata-se de uma expressão de força interior. As
religiões estagnadas em códigos e regras "caídas” efetuam uma “lavagem
cerebral” e tornam humanos em apáticos corpos desprovidos de essência. A
perversidade, do latim “perversitas.atis”, é um impulso selvagem que tende
corromper estruturas sólidas. Não se trata de um conceito simplista e sim da faculdade
de usar todos os recursos e formas energéticas para alcançar objetivos. A
Quimbanda usa dessa perversidade em alguns aspectos, entretanto, os impulsos
perversos que tendem a anomalias como a mentira compulsiva, dissimulação,
inveja e ao alto índice de narcisismo são arduamente combatidas pelos Mestres
da Quimbanda.
Outra visão limitada desse autor é acerca da formação da
"Quimbanda”. No plano material, a “Quimbanda” realmente nasceu através dos
povos martirizados, entretanto, o "esterco” não foi a perversidade e sim a
revolta e o ódio. Dentre essa formação, não foram apenas os povos martirizados
que edificaram as colunas de Maioral; espíritos de todas as etnias foram
agregados aos Reinos que evoluem incessantemente.
Quando falamos em “Hierarquia de Exu”, falamos sobre
gerência, a capacidade de distribuir ordenadamente. Essa graduação demonstra
que a organização das fileiras de Maioral objetiva uma otimização do sistema de
embate, um máximo aproveitamento da capacidade de cada espírito e o Direito evolutivo
aos mesmos.
Portanto, desde que um espírito é conduzido às sendas de
Exu, sua essência é lapidada, enriquecida e preenchida com sabedoria e magia.
Esse processo não pode ser medido pelo nosso tempo causal, não existe uma
medida certa para que os Exus e Pombagiras permaneçam nos degraus evolutivos.
Certo é que alguns despertam suas chamas internas com tamanha força que recebem
títulos. Essa graduação não faz com que existam Exus Maiores e Exus Menores,
pois a Quimbanda Brasileira classifica os espíritos pelo grau evolutivo que os
mesmos ostentam. Jamais podemos esquecer que mesmo que existam disputas
internas, existe o poder limitador e nada pode ser maior que as emissões
energéticas do Grande Dragão Negro.
No começo da jornada evolutiva, os Exus são direcionados aos
Reinos e Sub-Reinos donde receberão um árduo processo de decomposição e
aprendizado. Quando aptos, passam a ostentar o nome do Reino e servir nas
fileiras de algum Exu com grau evolutivo superior. Por exemplo: Se o espírito
receber o título de “Exu de Encruzilhada”, será direcionado para a
falange/legião cuja energia seja compatível com a essência individualizada. Se
a energia compatível for da “Kalunga", o mesmo servirá nas “Encruzilhadas
de Kalunga". Dessa forma, a essência formadora do espírito é respeitada e
usada dentro das necessidades do Grande Reino.
O Exu, como todos os espíritos em vias evolutivas, pode
evoluir absorvendo forças e sabedorias nas correntes energéticas astrais. Isso
faz com que seus poderes se tornem mais direcionados e suas características
definidas. Nesse ponto, os Exus recebem "nomes” que representam suas
legiões. O “Exu de Encruzilhada" pode se tornar "Exu Tranca Rua das
Encruzilhadas” ou um “Tiriri das Encruzilhadas” dentre outras classificações.
A evolução é continua e longínqua. Após o Exu ter
desempenhado sua função com maestria e força, destacando-se pela busca e
despertar, servindo a causa maior com dinamismo e tendo alcançado a plenitude
de forças, recebe o título de “Mestre". Em alguns casos, esse título pode
ser de “Mestre Sete”. O “Mestre Sete” difere-se do título de “Mestre” pela
necessidade expansiva e organizacional do Reino. Os “Mestres Sete" possuem
maior número de legionários pela máxima necessidade de embate que existe no
Reino.
Todos os “Mestres” tem por obrigação a expansão de seus
Reinos. Cada espaço do plano astral deve ser modelado de acordo com os impulsos
da Vossa Santidade Maioral. Os “Mestres” são potencializadores e organizadores
dessa expansão. Entendemos que expandindo os Reinos, crescem o número de
passagens entre os dois mundos" e o despertar das chamas aprisionadas.
Quando essa expansão atinge o número construtivo "49", ocorre a
necessidade de um “Rei” zelar desse espaço. Um dos “Mestres” é eleito pelos “Poderosos
Mortos" e as características nominais são elevadas ao nobre título de
“Rei”. Seguindo o exemplo descrito, o “Exu de Encruzilhada da Kalunga”, evolui
para “Tranca Rua da Encruzilhada da Kalunga”, “Tranca Rua das Sete
Encruzilhadas da Kalunga – Mestre Sete” e “Exu Rei das Sete Encruzilhadas da
Kalunga”. Assim funciona a verdadeira hierarquia de Exu e Pombagira dentro da
gnose da Quimbanda Brasileira.
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