A Transformação
1. O Culto aos Mortos.
O povo africano tem uma relação com os mortos que vai de
encontro com as práticas e concepções cristãs. Morrer significa uma mudança de
estado, do plano de existência e principalmente de status. Os mortos,
principalmente os ancestrais genealógicos, são objeto de culto e veneração e,
através de rituais mortuários específicos, são trazidos de volta a esse mundo
para corroborarem com nossos atos e nossa consciência. Os mortos, chamados
pelos Bantus de Makungos e pelos Yorubás de Egúns são espíritos que possuem
consciência até serem levados às correntes naturais onde perderão suas
identidades e passarão a fazer parte de outra classe de espírito ou serem
assentados para conduzir determinadas expressões religiosas. Até que cheguem a
esse ponto evolutivo, podem interferir na vida dos sucessores. Como a
religiosidade africana é muito rica e detalhada e não é esse o foco dessa obra,
nos restringiremos apenas às informações necessárias para a formação de nossa
corrente.
Os Exus cultuados na Quimbanda, salvo os Tronos, são
espíritos que tiveram diversas passagens materiais, portanto, o Culto dos
Mortos da Quimbanda é fruto dessa herança necrosófica africana somada às
práticas magísticas/religiosas indígenas e europeias. Entendemos que os
primeiros mortos que deram origem ao que concebemos como Quimbanda eram
espíritos de sacerdotes, sacerdotisas e adeptos religiosos africanos, indígenas
e europeus (bruxas/bruxos de Tradições Medievais) extremamente despertos e
revoltados, que por possuírem pleno controle das diversas correntes energéticas
se renegaram prosseguir pelos planos astrais e se manifestavam através do Culto
aos Mortos.
Os Mortos recebem títulos
Esú, desde antes da vinda ao Brasil Colônia era associado ao
mal e ao regente diabólico Satanás. De forma mais ampla, o culto africano era
visto como bruxaria e feitiçaria maligna pelos colonizadores europeus.
A princípio, os cultos afros eram realizados de forma bem
oculta, pois se dessa maneira não o fosse, os africanos receberiam duras
sansões. Os locais de culto eram mata adentro, sempre guardados pelos votos de
silêncio dos adeptos e pela discrição daqueles que os procuravam.
Inevitavelmente, em alguns locais, os espíritos se comunicavam através da
posse, ou melhor, da incorporação. A porta” espiritual aberta aos mortos dava
vazão tanto aos atrelados à falsa luz' quanto aos obscurecidos.
Foi através do contato com esses espíritos que o nome Esú
passou ser usado como título que diferenciava essa classe espiritual. Isso
ocorreu por uma soma de motivos
A conduta rebelde, irreverente e sensual que esses espíritos
assemelhavam ao Senhor do Movimento (Esú); O controle sobre o elemento fogo e a
voracidade em busca de energia vital. A agressividade que os diferenciava dos
demais espíritos; A falta de conhecimento de algumas pessoas que tinham contato
com as práticas espirituais proibidas e associaram esses espíritos ao diabo,
que no culto era popularmente conhecido como Esú. Essas pessoas, através da disseminação
oral, fizeram com que essa figura se tornasse ainda mais popular: O uso dessas
manifestações por alguns sacerdotes para impingir terror em seus algozes.
Assim, fica claro que o Exu, chamado na atualidade de
"Exu-Egúns" ou “Exu Catiço” nasceu dentro do Culto aos Mortos (Egúns)
e ultrapassou a esfera este que diferenciava as Nações.
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