quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Quimbanda audiobook parte 04










O Diabo e a Quimbanda
Definitivamente, Kimbanda não é o culto ao diabo, entretanto, quando observamos o culto Bantu da Kimbanda como resistência ao escravismo, a Igreja Católica e à corrupção sociocultural, entendemos que se trata de um culto opositor. Incompreendido, tornou-se uma vertente diabólica completamente corrompida.
Nós, apesar de propagarmos a Quimbanda, entendemos que o nome é apenas uma forma de agradecer, glorificar e dar continuidade ao legado dos índios, negros e feiticeiros europeus pelo embate que fizeram a uma religião onde os opositores eram os verdadeiros escravos. Tudo que acreditamos foi construído pelo sangue dos nossos antepassados, baseados na mistura de suas crenças, de seus temores e amores. Somos aqueles que deram continuidade à tradição dos totens macabros, às estátuas com chifres e rabos e aos feitiços que corrompiam a estrutura de uma fé. Não queremos o retorno da pureza, pois vivemos em estado de embate diariamente e necessitamos da força dos espíritos antepassados para impingirmos o medo, o pânico e a fobia nos descendentes dos colonizadores. Quimbanda é a religião da Liberdade!
A Quimbanda não é e nunca será uma prática da Umbanda, pois não aceitamos os ideais de embranquecimento ditados pela mesma. Pouco nos importamos com o que acham das nossas práticas aparentemente populares e edificamos o ideal esotérico de que a Quimbanda é uma expressão do “Mal”, principalmente pelo fato de acreditarmos que o “Mal” vence as ilusões e age como opositor das correntes morais e éticas que adoecem o livre pensar e viver. Se o cristianismo é a 'religião dos bons e puros', a Quimbanda é a religião da evolução e do desprendimento. Os fracos de espírito jamais entenderão a dimensão de seu estado de escravo dentro do regime opressivo.
Somos a codificação do popular, a voz dos revoltados, a mais profunda escuridão e o mistério da lágrima dos cativos. O verdadeiro adepto possui o fogo desses ancestrais dentro de si, suas almas são vermelhas e pretas, não só pelo urucum e pelo jemoúna, mas em alusão a Satanás, o 'grande' inimigo cristão (características herdadas de Deuses como Seth, Pan e Saturno). Seus olhos enxergam no escuro e sua fé é no poder de manter distante de si tudo que pode atrapalhar a liberdade de viver aquilo que entende como sendo correto. Somos o legado dos caldeirões e o resultado da evolução tribal que não perdeu a chama da vingança.
A Quimbanda se diferencia do culto aos Orixás pelo fato de não usar as forças da natureza para alcançar suas metas e desejos, mas sim a força ancestral do mundo dos mortos. Espíritos sábios e repletos de força são chamados através das práticas religiosas para intervir na vida e no destino de seus assistidos. Geralmente os espíritos que trabalham na corrente da Quimbanda são antigos Xamãs, Mestres Caboclos, Bruxos, Alquimistas, Feiticeiros, Guerreiros, Assassinos, dentre outros que se encaixam na vibração energética do culto exercendo suas forças nas linhas de Exu e Pombagira (consorte feminino).
Exu é o ícone da Quimbanda, não está nem a direita, nem a esquerda de ninguém, pois possui duas cabeças no mesmo corpo. É um nome e um título que vem acompanhado de uma alcunha, um poder ou associado a ancestralidade. Foi empurrado para dentro do lago de enxofre do inferno cristão tornando-se agente do maleficio, confundido com Alma, humanizado e dividido por funções.
Somos a mistura dos Pajés, Mulôjis com as feiticeiras Boca Torta, Nóbrega, Arde-lheo-rabo, Mija vinagre, dentre tantas outras. Nossos diabos alimentam-se das nossas chagas em troca da verdadeira Luz.

Quimbanda audiobook parte 03











O Diabo Brasileiro

Como citado anteriormente, a grande maioria dos negros que vieram na condição de escravos já possuíam o entendimento acerca da dualidade e do embate existente entre ambas as forças, onde de um lado estava Deus e do outro o Diabo. O que eles não imaginavam é que a pressão exercida pelos colonos capturasse suas religiões nativas e as colocasse na mesma posição, ou seja, de um lado Orixá e do outro Exu. Isso foi se entranhando de tal forma no Brasil colônia que não existia mais uma identidade desprovida de influência.
"Exu, Bará ou Elegbará é um santo ou orixá que os afro-baianos têm grande tendência a confundir com o diabo. Tenho ouvido mesmo de negros africanos que todos os santos podem se servir de Exu para mandar tentar ou perseguir a uma pessoa. Em uma altercação qualquer de negros, em que quase sempre levantam uma celeuma enorme pelo motivo mais fútil, não é raro entre nós ouvir-se gritar pelos mais prudentes: Fulano olha Exu! Precisamente como diriam velhas beatas: Olha a tentação do demônio! No entanto, sou levado a crer que esta identificação é apenas o produto de uma influência do ensino católico.” (Raimundo Nina Rodrigues- O animismo fetichista dos negros baianos- Rio de Janeiro -UFRJ/Biblioteca Nacional, 2006.).
Em contrapartida, os índios (que tiveram enorme contato com a cultura cristita) também já haviam absorvido muitos conceitos. Como os cristãos europeus entendiam que a única fé verdadeira era no seu Deus e seus ídolos, tudo que fugia desse orbe era considerado maligno. De uma forma ou outra, houve um embate, uma luta dos nativos que não aceitavam essa nova forma de culto, esse novo Deus e os sacerdotes que apenas ilustravam a salvação da alma e não curavam doenças e faziam outros sortilégios que os Pajés costumavam fazer.
Como o homem europeu vivia a dicotomia entre o bem e no mal, um dualismo resultante dos séculos de imposições cristitas, “transpirava” o medo de ser influenciado pelas forças malignas que tanto embasavam em suas pregações. Quando se viam diante a líderes tribais ferozes e contrários à instalação de seus mitos em terra nativa, tornavam-se presa. O jogo psicológico dos antigos foi o início da Tradição que veio se tornar a Quimbanda, ou seja, a oposição usou da própria limitação cristita para programar o medo e a aversão.
Existiam índios revoltados que criavam núcleos de resistência dentro das matas, longe do homem branco português, pintavam seus corpos de vermelho (sementes de Urucum) ou preto (cinzas ou jemoúna), fumavam, bebiam seus preparados e alguns comiam carne dos inimigos (principalmente os Tupinambás). Morriam e não eram convertidos, defendiam seus espaços e suas famílias, honravam seus Deuses e seus mortos. Erguiam 'totens' com crânios, partes humanas e animais, impingiam medo nos seus perseguidores e propagavam lendas que eram verdadeiros pesadelos. Por conhecerem a fé e os pontos fracos de seus inimigos, usavam essa camuflagem para se proteger. Isso não impedia que índios de outras tribos submissas à coroa não levassem os caçadores portugueses a esses refúgios para matar e escravizar os rebeldes.
Os negros e os ameríndios fundiram suas culturas dentro de um árduo processo, ora nas batalhas em que ficavam de lados opostos, ora nos cativeiros em que eram mantidos como escravos. As culturas foram se moldando e, mesmo com a enorme problemática de reconhecimento, a religião também. Contudo, os povos acabaram se fundindo. Esse intercâmbio movimentou todo um novo conhecimento acerca da fauna, flora, dos Deuses nativos, dos Deuses africanos e de suas relações com os ícones cristãos. A Quimbanda Brasileira acredita que em determinados momentos, os negros e os índios se associaram para promover as fugas das senzalas, pois os índios eram profundos conhecedores das matas. Os fugitivos corriam pela mata adentro para locais bem distantes dos centros onde ocorria grande concentração de escravos e, após escolher um local apropriado e protegido, fundavam vilarejos para abrigar os negros e índios rebeldes. Assim como existiam índios que eram submissos e apontavam as localidades das tribos rebeldes, índios e mestiços (descendentes de brancos e índios) faziam o papel de algozes desses negros fugitivos.
Alguns vilarejos rebeldes, mais tarde denominados como Quilombos, abrigavam não só negros e índios como também brancos fugitivos, mulatos e cafuzos
(descendentes de índios e negros eram visto como 'escória social pelos conservadores portugueses). A religião, dantes podada por colonos e anteriormente pelos jesuítas volta existir, mas com algumas características novas herdadas do sincretismo motivado pelo intenso processo de fusão cultural, pois dentro de um mesmo espaço muitas vezes existiam descendentes de diversas nações.
Dentro desse processo de fuga e criação dos quilombos, os Kimbandas e outros sacerdotes e sacerdotisas afro exerceram um papel fundamental, curavam os negros mutilados, doentes e em trabalho de parto, eram conselheiros e mantinham a chama da fé acesa, lutavam contra os grilhões dos senhores de engenho e procuravam facilitar a ida dos negros para os vilarejos ocultos, muitas vezes usando seus poderes contra os capatazes que guardavam os escravos. Dentro da Tradição Oral, é dito que esses Kimbandas faziam os guardas dormirem e ofertavam à Pambu Njila cachaça e fumo para que abrisse os caminhos para as fugas, protegendo os negros ao longo da jornada.
Certo, é que, todos os deuses africanos correlatos de Èsú passaram pelo mesmo processo de demonização, entretanto, a figura “Diabo Exu” também foi fruto de outros sincretismos. Dentro dessa massa formadora do “Diabo Brasileiro” destacam-se os representantes das culturas africanas Bantu (Pambu Njila, Aluvaiá, Mavile, dentre outros) e Fon (Elegbara), da cultura indígena os Guarani (Kurupi – Deus da Sexualidade) e Tupi-Guaraní (Anhangá e Ticê – Deus e Deusa das Trevas, Guandirô – Deus da Noite que bebia sangue, Pirarucú – Deus maligno que mora no fundo dos rios, dentre outros), além de mitos e lendas que se agregaram ao novo
Ser.
Como Èsú já havia atravessado a ‘Kalunga Grande sincretizado com os demônios cristitas, em um novo território, cultuado com diferenças do africanismo original, tornou-se um marcante instrumento usado pelos negros africanos como forma de apavorar seus perseguidores. Da mesma forma que os índios criavam 'totens' erguidos no meio da mata, os negros não tardaram a esculpir novas imagens de Exu repletas de fundamentos diabólicos para agir da mesma forma. Temos uma concepção particular que dentro desse novo conceito de Exu, os Mulôjis (feiticeiros Kimbundos) e os Ndokis (feiticeiros Quicongos) tiveram uma enorme influência. Não era apenas uma forma de assustar os inimigos, mas uma nova descarga energética que gerava um Ser poderoso e maléfico, bom e protetor para os seus, possuidor das raízes que se entrelaçaram em novas espécies formando um novo jardim. Não tardou para a fama desse Ser se espalhar pelos quatro pontos como forte aliado dos povos rebeldes.
O Brasil colônia, ao contrário do que a grande maioria foi ensinada, não foi um território onde a Igreja Católica esteve tão presente, principalmente nos dois primeiros séculos.
"...Distantes do reino, submetidos a uma vigilância clerical realizada sem a mesma constância e intensidade daquela exercida na metrópole, o catolicismo acabou no Brasil por ganhar novos contornos: amenizadas as cobranças sobre os atos praticados, avançou na direção de um diminuto apego às missas, de uma menor preocupação com o comportamento, e também, do sincretismo.” (Angelo Adriano Faria de Assis – Doutor em História pela UFF; Professor Adjunto II – UFV- Feiticeiras da Colônia. Magia e Práticas de Feitiçaria na América - Mneme - Revista de Humanidades. UFRN)
A miscigenação racial também proporcionou a miscigenação religiosa e naturalmente, através dos inúmeros sincretismos, a religião, bem como a espiritualidade popularizou-se em muitos aspectos. Isso ocorreu em uma sociedade em formação com constante movimento imigratório e emigratório. Essa forma menos hostil de lidar com a fé e figuras sagradas fez com que muitos aspectos do catolicismo fossem ‘maculados'.
Uma informação deveras importante é que os índios e os negros no processo de vivência encontraram influências de outras tradições: A Pagã e a Judaica. Muitos homens e mulheres condenados pelos Tribunais do Santo Ofício, pela prática de bruxaria elou feitiçaria eram deportadas para a colônia portuguesa como forma de exílio. Atracaram em terras brasileiras bruxos, bruxas, feiticeiros e feiticeiras de Tradição Medieval, juntamente com muitos neoconvertidos do judaísmo. Muitos neoconversos judaizavam ocultamente e acabaram propagando sua religiosidade em terras coloniais. Esses fortes elementos foram colocados na panela de Exu'.
As feiticeiras medievais muitas vezes eram adeptas de correntes que usavam a corrupção dos elementos católicos para a realização de seus intentos mágicos. Rezavam e praguejavam em nome da Cruz das Santas Almas, bem como faziam feitiços de amarração e fidelidade. Esses feitiços tornaram-se extremamente populares e requisitados, inclusive pelos senhores e senhoras abastados da sociedade em formação.
As feiticeiras europeias tiveram grande contato com índios e negros. Isso fez com que todo esse conhecimento fosse mesclado e, a partir desse exato momento, Exu realmente recebesse o status de diabo com novo vigor.
"Filtros, mágicas, feitiçarias, simpatias, adivinhos, beberagens, poções, rezas e orações também se imputavam poderes milagrosos. Para o bem e para o mal, envolvendo acordos com deus e o diabo. Não eram raros os oferecimentos e práticas mágicas para recuperar ou retirar a saúde de alguém, trazer riquezas, gerar ruína, amaldiçoar casais ou pessoas, conquistar e manter fiel o homem ou a mulher amada para toda a vida...”. (Angelo Adriano Faria de Assis – Doutor em História pela UFF; Professor Adjunto II – UFV- Feiticeiras da Colônia. Magia e Práticas de Feitiçaria na América - Mneme – Revista de Humanidades. UFRN)
O medo da ascensão dos neoconversos e os relatos das práticas pagãs, incluindo negros, índios e europeus, fizeram com que a Metrópole enviasse ao Brasil colônia o "Malleus Maleficarum” e iniciasse um processo de limpeza'. A partir desse ponto, toda e qualquer prática religiosa não compreendida pelos ditames católicos era tida como diabólica.
"Perseguidos durante muito tempo, há poucos documentos ou registros históricos sobre elas. E, entre esses, os mais frequentes são produzidos pelos órgãos ou instituições que combateram essas religiões e as apresentaram de forma preconceituosa ou pouco esclarecedora de suas reais características. É O caso da visitação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição, nos quais estão registrados os processos de julgamento de muitos adeptos dos cultos afrobrasileiros e que foram perseguidos sob a acusação de praticarem 'bruxaria pela Igreja Católica Colonial.” Vagner Gonçalves da Silva - Candomblé e Umbanda: Caminhos da Devoção Brasileira. - Editora Selo Negro - 2a Edição, 2005.
O tempo passou e ocorreu um endurecimento por parte dos dominantes. Os feiticeiros(as), além de perseguidos pela Igreja, eram alvo da Lei. Todos reconheciam o poder desses “Amantes do Diabo” e usaram métodos diversos para cercear a apansão. Ciclicamente, mas de formas diversas, sempre ocorreu e ocorrerá uma perseguição. Os verdadeiros feiticeiros guardam em si a arte da camuflagem, pois necessitam se esconder sem deixar suas essências de lado. E a lógica da feitiçaria de defesa.
Nossa gnose nos leva até esse ponto. Tudo que posteriormente falaram de Quimbanda está intimamente conectado ao desenvolvimento da Umbanda do Brasil. Isso já foge da nossa alçada e da nossa vontade, haja vista que não existe relação alguma entre ambas.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Quimbanda audiobook parte 02








O Diabo na África
O continente africano sempre foi objeto de cobiça e disputa pelos povos. A história marca como o princípio, o estabelecimento dos povos fenícios por volta do século X a.C. Posteriormente, gregos, romanos, vândalos, árabes e por fim, entre os séculos XIII e XIV, os Estados formados na Europa. Toda essa influência certamente moldou muitos aspectos religiosos, entretanto, focamos no período de colonização europeia, pois foi quando as palavras Diabo, Demônio', 'Satanás, Beelzebuth'e ‘Lúcifer’adentraram efetivamente nesses territórios.
Junto aos primeiros exploradores/colonizadores europeus que fizeram suas incursões na África, estiveram sacerdotes cristãos (Missionários). O primeiro impacto que os mesmos tiveram ao encontrarem os povos nativos foi que aquela terra era regida por forças malignas e que transpirava pecado. Temperaturas elevadas, pessoas negras, nudismo, poligamia, grandes animais selvagens, território hostil e deuses cultuados com sacrifício animal. De todos os Deuses africanos (para os sacerdotes cristãos todos eram formas atrasadas), destacou-se Esú. Esse Deus de origem Yorubá é o princípio da comunicação entre o Aiyè (astral) e o Orum (material) dos homens e dos deuses. Simboliza o crescimento, a mudança e a força dinâmica de toda criação
Entretanto, esse Deus, chamado pelos povos Fons de Elegbara representava força motriz dinâmica e, dentre seus símbolos, destacavam-se as formas fálicas associadas às atividades sexuais. Foi exatamente isso que mais escandalizou os primeiros exploradores e sacerdotes missionários.
Sangue de sacrifício, pessoas de pele negra, ambiente selvagem e por vezes hostil, nudismo, falta de concepção de pecado e um Deus fálico que regula toda essa força. Resultado: Esú era o Príapo africano; uma das formas de Satanás e seus anjos caídos e, consequentemente, o ódio, maldade e perversidade que iam de encontro ao ‘misericordioso deus cristita'.
"Os negros reconhecem em Sată o poder da possessão, pois o denominam comumente Elegbara, isto é, aquele que se apodera de nós.” (Pierre Bouche, La Côte des Esclaves et le Dahomey. Paris, 1885)
"O chefe de todos os gênios maléficos, o pior deles e o mais temido, é Exu, palavra que significa o rejeitado; também chamado Elegbá ou Elegbara, o forte, ou ainda Ogongo Ogó, o gênio do bastão nodoso.” (R. P. Baudin - Fétichisme e féticheurs)
Dentro do próprio território africano, antes do negro ser escravizado para as terras do 'Novo Mundo', Èsú, assim como Elegbara (correlato Fon) foi considerado o propagador do mal, das doenças e discórdias. Dessa forma acabou se tornando uma espécie de “bode expiatório” dos locais. A frase 'Eshu l'o ti mi' (Exu que me impeliu) começou a ser usada pelo povo como desculpa por erros praticados. Esse conceito de que forças malignas impingem o homem à realização de atos fora dos padrões aceitos já era o preâmbulo da grande influência da Igreja Católica.

Quimbanda audiobook parte 01






Quimbanda audiobook parte 01

Brasil, terra formada por muitas etnias, local escolhido por antigos Deuses para uma fusão sociocultural, onde as raças se misturaram formando novos credos e cultos, onde ameríndios, africanos e europeus deixaram a rigidez de suas formações primárias e deram vazão ao novo, ao desconhecido e ao desbravador. Uma região abençoada e amaldiçoada foi a terra fértil que capacitou a formação de uma corrente evolutiva de tamanha grandeza que deixa marcas no mundo inteiro... A Quimbanda!
Kimbanda e Quimbanda são formas gráficas similares, entretanto, apesar de serem homófonas e possuírem a mesma raiz, o curso histórico fez com que cada uma delas assumisse um caminho e uma identidade própria. Kimbanda é uma palavra de origem africana, mais precisamente da língua Kimbundo (Bantu) que significa: Sacerdote da arte de curar. Possivelmente, essa expressão seja a junção de KI-MBANDA. Sob tal prisma, o Kimbanda era o Alto Sacerdote curandeiro e conselheiro que evocava e invocava os espíritos para sanar os problemas carnais e espirituais dos membros de suas tribos. A palavra Kimbanda é similar à palavra Nganga (também de origem Bantu, entretanto no dialeto Quicongo) o “curandeiro das ervas que carrega a sabedoria e o conhecimento” ou “sacerdote que consegue comunicar-se com o outro mundo". Ambas as palavras simbolizam o sacerdote curandeiro, fitoterapeuta, conselheiro, interventor, aquele que se comunica com os espíritos em prol de seu vilarejo, seu povo e todos que os procuram. Entretanto, a palavra Kimbanda também se confunde com a própria religião Bantu praticada em partes de Angola e no Brasil.
A Kimbanda, assim como outros cultos afros, veio ao Brasil através do processo escravista. Ao longo dos séculos XV e XVI Portugal exerceu um forte domínio em alguns locais da costa africana através de feitorias e pelo meio desses pontos iniciou seu obscuro comércio.
Como a escravidão já era uma prática existente entre as próprias tribos africanas, não tardou para que os conquistadores portugueses estabelecessem vínculos comerciais com autoridades locais e firmassem lucrativos acordos. Dessa forma o negro adentrou na Europa, nas ilhas caribenhas e no território brasileiro. Os escravos capturados na África eram prisioneiros de guerra, feiticeiros, assassinos, adúlteros ou nos casos mais graves, indivíduos trocados por chefes tribais ou penhorados por dívidas. A procedência dos escravos cursava toda a costa oeste da África, ocorrendo por Cabo Verde, Congo, Quíloa e Zimbábue. Eram divididos em três grupos: sudaneses, guinenos-sudaneses muçulmanos e bantus. Destaca-se esse último grupo por serem os mais numerosos e, segundo alguns relatos de senhores de engenho, os mais pacíficos e adaptados aos trabalhos, em contraparte aos de origem sudanesas considerados mais fortes e inteligentes, porém, com intensas tendências às revoltas.
O negro aportou em terras brasileiras e junto vieram diversas espécies de sacerdotes, todavia, conjuntamente aportaram os temidos Mulôjis e os Ndokis. Ao contrário dos Kimbandas, esses não eram sacerdotes de cura e equilíbrio, eram feiticeiros necromantes (por vezes mercenários) que conheciam as artes mais temidas oriundas de um tempo que não conseguimos datar. Segundo o “Dicionário de Kimbundu-Português” de António de Assis Júnior, Mulôji é: Feiticeiro, condutor das forças ocultas maléficas (t. kimbundu).
O povo africano que estava em solo brasileiro teve um árduo processo de adaptação. A ação escravocrata trouxe ao Brasil milhares de Africanos e dezenas de Nações aportaram e foram distribuídas como mercadoria por todo território. Tudo era novo, inclusive a condição de escravo. Obviamente, muitos se revoltaram com tal situação e assim que podiam fugiam de seus cativeiros mata adentro. Outros, mesmo revoltados acabaram aceitando a escravidão e procuraram camuflar ou sincretizar suas crenças com a cultura dominante (cristita europeia) e por fim, existiram os negros que realmente se converteram e aceitaram seu destino de forma mais pacífica. Três comportamentos ocorreram concomitantemente: A revolta, a aceitação parcial e a aceitação completa.
"As convicções religiosas dos escravos eram, entretanto, colocadas a duras provas quando de sua chegada ao Novo Mundo, onde eram batizados obrigatoriamente para a salvação de sua alma e deveriam curvar-se a doutrina dos seus mestres...” (Pierre Fatumbi Verger- Orixás, deuses iorubas na África e no Novo Mundo)
Nosso foco está direcionado aos negros cuja aceitação foi parcial e principalmente aos que se revoltaram contra o sistema. Como o Brasil colônia era uma terra de grandes dimensões e distante do Reino (Portugal) a vigilância da Igreja não foi tão intensa quanto era na Europa. Isso deu margem para um desapego aos costumes cristãos e um fortalecimento do sincretismo entre os povos.
O negro africano encontrou em terras brasileiras uma cultura local que também passou por árdua perseguição: Os povos indígenas do Brasil. Descendentes de linhagens de caçadores da América do Norte que atravessaram via istmo do Panamá, segundo estudos publicados por órgãos oficiais do Brasil, encontram-se em terras sul-americanas há pelo menos sete mil anos. Com raízes culturais muito profundas e um sistema de crenças baseado na natureza (fauna e flora), nos espíritos ancestrais, no poder das ervas e na vida após a morte, os índios tinham na figura dos Pajés (Xamãs) um elo de conexão entre o mundo visível e o invisível. Pajés eram seres que entravam em transe (às vezes extáticos) e se comunicavam com seres celestes através de invocações e evocações. Esses feiticeiros tinham poder sobre os animais e espíritos da floresta, eram sacerdotes médicos que trabalhavam com forças fitoterápicas e suas palavras eram respeitadas como Leis dentro das tribos. Um Pajé exercia a mesma atividade que um Kimbanda.
Toda história que envolve os índios no Brasil é controversa, pois todos os documentos que retratam a época do Brasil colônia são tendenciosos e manipuladores. Mesmo que esse livro seja direcionado à Quimbanda, temos de traçar uma linha histórica para que todos compreendam os enlaces que geraram a religião.
É sabido que os Padres Jesuítas foram os primeiros a ter contato direto com os índios. Esses 'arautos da cruz' nada mais eram do que soldados em missão da Igreja Católica, pois atendiam a função de “controladores das almas” em prol do fortalecimento do Estado e impediam os avanços da Reforma Protestante. Esses padres tinham por objetivo ensinar a língua portuguesa ou espanhola, edificar escolas e principalmente transmitir a fé católica e os costumes europeus. Essa prática ocorreu em território brasileiro, africano, chinês e indiano.
"Países católicos, trouxeram junto com os navios desbravadores, os sacerdotes, os quais tinham a missão de expandir a fé para essas novas terras. Encontraram sociedades nativas com costumes totalmente diversos, ou como diria o antropólogo Lévi Strauss, os europeus encontraram "outra humanidade”. (Juberto dos Santos - www.catequisar.com.br)
Os padres jesuítas combatiam as práticas nativas instituindo uma cultura ao pecado'. Nudismo, poligamia, as práticas religiosas, o canibalismo, enfim, toda cultura e tradição indígena sofreu inúmeras tentativas de persuasão antes da perseguição propriamente dita. Entretanto, parte do povo indígena impôs restrição (através de batalhas sangrentas) a essa invasão. A história relata que a relação entre índios e europeus teve fases muito diversas. A princípio os europeus acreditavam que os índios eram facilmente manipuláveis e quando perceberam o poder de embate, entenderam que deveriam atacar o âmago das tribos, ou seja, corromper os dirigentes (Caciques). Como as etnias indígenas viviam em constante guerra (intertribais), os europeus se aproveitaram para estabelecer relações proveitosas e garantir espaços e tratados comerciais favoráveis. Como a França e a Espanha disputavam territórios com Portugal, a aliança com os índios ocorreu em ambas as partes e tribos rivais se enfrentavam em nome dos Reis da Europa. Podemos ver isso no incidente histórico denominado “A Confederação dos Tamoios” em 1575, onde 2.500 índios foram chacinados pela Coroa Portuguesa. Algumas dessas tribos praticavam a escravatura e, quando seus inimigos caiam em mãos opostas se tornavam objetos de troca. Toda uma nova política foi feita através dessas alianças.
Os caciques foram o grupo escolhido para aprender a escrita e a leitura. Eram doutrinados pelos ditames religiosos e agiam em suas tribos como propagador da religião. Essa tática funcionava muito bem e facilitava o processo de conversão. Além disso, muitos índios (na fase de infância) eram mandados à metrópole portuguesa para serem educados e retornarem ao Brasil como “espelhos', referência de como os demais deveriam ser. Toda essa destruição cultural fez com que a identidade dos índios fosse acabando... Dois séculos de Igreja Católica dizimaram milhares de anos de tradições enraizadas.
"O que resultou da pregação jesuítica não foi, porém, um índio convertido, mas um índio subjugado, domesticado, que vendo desmoralizado os costumes a que estava arraigado, sem ter assimilado a fé que quiseram impor, não encontravam nem forças para viver.” (Berta G. Ribeiro - O Índio na História do Brasil- Editora Global - 2009).
"...A educação é exatamente isso, uma maneira de transmitir esse modo herdado e a maneira inata de se viver. O homem é o todo de suas relações, pois recebe as mesmas influências arquetípicas que todos os homens de seu grupo social recebem, mesmo sendo individual e possuindo características únicas. Se perder essa participação arquetípica de seu mundo, o homem está morto, mesmo que não fisicamente, ele agora é um defunto que não possui mais funções perante a vida.” (O Mito Cristão contra Guaixará e os outros diabos.Educação e conversão Século XVI e XVII - Sady Carnot - Piracicaba, SP. 2006)
Nessa história toda sabemos que ocorreu a escravidão de negros e de índios em terras brasileiras. A Igreja foi uma instituição omissa que permitiu a compra e venda de prisioneiros e que contribuiu com o declínio e destruição de muitas etnias indígenas. Alguns alegam que a Igreja repudiava a escravidão (e existem até bulas papais sobre o assunto), outros que a Igreja legitimava a escravidão, certo é que, independente de documentação histórica a Igreja esteve presente durante esse período e não são poucos os relatos de atrocidades e castigos físicos que a própria impingiu em negros, índios e nos próprios europeus. A ação de catequese era uma via de duas mãos, pois diminuía a ferocidade dos nativos e facilitava a ação do Estado (Portugal) no processo de colonização.
A visão acerca dos índios foi um tanto quanto diferente da dos negros, pois os colonos alegavam que eram indolentes, preguiçosos e que não tinham resistência alguma às doenças. Outros alegaram que os índios escravizados eram como animais selvagens e preferiam morrer a trabalhar. Certo é que o comércio de escravos africanos movimentava dinheiro à Metrópole, algo que o indígena não fazia e, por tal vantagem, acabou suplantando o escravismo indígena no Brasil e institucionalizando o tráfico negreiro.
Podemos afirmar que o contato entre negros, índios e colonizadores foi muito intenso. Um verdadeiro ‘caldeirão' cultural borbulhava em terras brasileiras onde Deuses e Deusas se fundiam numa velocidade dantes nunca vista, e novas religiões ou novas formas de culto às antigas religiões nasceram dessa fusão cultural. Entretanto, um Espírito, dantes não cultuado pelas culturas nativas despontava como açoite dos costumes religiosos cristãos. Seu nome era: Diabo.





terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Samuel Ajayi Crowther







Laroyê Exu! Exu é Mojubá!
A palavra exu, por si só, dita entre um grupo de amigos no trabalho ou até mesmo nos programas de televisão gera rápida associação com algo ruim, seja maligno ou simplesmente não desejado.
É comum encontrar uma pessoa não ligada à religião dizer:
“Sai exu! Chuta que é macumba”!
Contudo, mesmo que os adeptos das religiões afro-brasileiras insistam com seus interlocutores que exu não é algo maligno alguns destes religiosos não conseguem expor com exatidão porque exu possui esta forte conotação pejorativa.
A explicação corriqueira é seguida de frases como:
“Exu fala na cara e a verdade dói. Por isso, o povo fala que exu não presta”;
“Dizem que exu é o diabo porque não conhecem a religião.
Se conhecessem, não diriam isso. Exu é Guardião”.
Afirmações deste tipo não nos esclarece o motivo e, talvez, a origem de tão reforçada vinculação de exu, orixá ou entidade de trabalho, como dizem os praticantes de Quimbanda, com o diabo católico.
A analogia entre exu e o diabo católico possui raízes mais profundas do que imaginamos. Por conta da análise histórica do bispo anglicano Crowther revelamos que o fato também é gerado dentro da sociedade iorubana há séculos.
Uma informação muito importante aos irmãos de fé que ainda não estão cientes desta funcionalidade.
O google tradutor possui a língua ioruba como opção.
Sim, podemos acessar o google tradutor, digitar uma palavra em ioruba, por exemplo, ori, que teremos como tradução em português: cabeça.
Contudo, digitando a palavra Esù (grafia mais aproximada do ioruba) teremos a tradução: diabo.
Explicarei um dos fatos fundamentais que levou e ainda leva grande parte da população a relacionar Exu com o diabo católico. 
Não existe um fato isolado na história da humanidade que vincule a imagem de exu ao diabo católico.
Podemos dizer que uma sucessão de acontecimentos gerou esta associação.
Entretanto, um fato histórico documentado é de extrema importância para o estudo da origem associativa de exu com o diabo.
Quando digo exu estou me referindo ao Orixá Exu, divindade mensageira e primordial junto ao grupo etnolinguístico africano de nome ioruba e também me referindo às suas demais associações em outros meios religiosos como, por exemplo, as manifestações em transe mediúnico de entidades espirituais denominadas como Linhas de Trabalho de Esquerda para algumas escolas umbandistas e de Quimbanda, que são chamadas também pelo nome de exu.
Para isto, precisamos conhecer a história de um nigeriano chamado Samuel Ajayi Crowther.
Samuel Ajayi Crowther nasceu no ano de 1809 na Nigéria, povoado de Oxogun que, na época chamava-se Iorubalândia.
Aos 13 anos de idade, sua cidade foi invadida por caçadores de escravos.
Acredita-se que estes caçadores eram de origem Fulani e Oyos que se converteram ao islamismo, fato muito comum na África.
A conversão para o catolicismo, protestantismo e islamismo é muito grande até os dias de hoje.
A invasão, contou Crowther em suas memórias, foi brutal.
Incendiaram casas, perseguiram os cidadãos que eram parados por meio de pancadas e conduzidas por meio de correntes presas ao pescoço.
Disse ainda que, os incapazes eram mortos aumentando o desespero, tendo em vista que as famílias eram dizimadas e os vínculos perdidos.
De uma hora para outra, parte de sua família e amigos eram açoitados e mortos deixando crianças sem pais para serem vendidas e utilizadas como mão-de-obra escrava do outro lado do oceano.
Na época, era uma vida sem volta.
Só havia sofrimento e dor. 
Samuel, comercializado por seis vezes, foi entregue a um grupo de portugueses que praticavam o tráfico de escravos intercontinental.
Estes traficantes colocaram seu grupo de escravos africanos dentro de seu navio negreiro e partiram rumo ao continente americano.
Possivelmente, Brasil.
Contudo, este navio negreiro foi interceptado pela marinha britânica em abril de 1822 e conduzido à região de Serra Leoa, região muito distante de sua terra natal.
Os africanos integrantes do grupo resgatado viram-se desorientados por aportar em região desconhecida, mesmo estando no mesmo continente.
Em Serra Leoa, Crowther deu início a uma nova vida.
Não por opção, mas por necessidade.
Era uma questão de sobrevivência. 
Passados três anos em Freetown (África), converteu-se ao cristianismo.
Sobre esta experiência, escreveu:
"sobre o terceiro ano da minha libertação da escravidão do homem, eu estava convencido de outro estado pior de escravidão, ou seja, a do pecado e de Satanás.
Aprouve ao Senhor abrir meu coração(...)
Eu fui admitido na Igreja visível de Cristo aqui na terra como um soldado para lutar bravamente sob sua bandeira contra nossos inimigos espirituais."
Podemos notar facilmente que Crowther enxergava-se como um religioso que tinha uma grande missão, lutar bravamente sob a bandeira do Senhor contra nossos inimigos espirituais. 
Em 11 de dezembro de 1825, Ajayi foi batizado pelo Reverendo John Rahan, integrante da Sociedade Missionária Anglicana.
Depois do batismo, adotou o nome Samuel Crowther em homenagem a uma grande figura desta mesma sociedade religiosa e que usava o mesmo nome.
Passou alguns anos em Serra Leoa estudando inglês e ganhou destaque entre os missionários recebendo o cargo de inspetor de alunos.
Não podemos negar que Crowther era inteligente, esforçado e dedicado à sua religião.
Mesmo não estando o clero britânico em concordância com esta situação, Crowther tornou-se o primeiro bispo negro no ano de 1864.
Neste mesmo ano, Crowther concluiu seu doutorado pela Universidade de Oxford. 
Antes de Crowther, a língua ioruba não tinha grande importância para os ingleses.
O intuito era ensinar o inglês.
Contudo, tal abordagem não se mostrara tão eficaz quanto a de Crowther que, com grande esforço, catalogava e traduzia os ensinamentos da igreja para as línguas locais.
Logo, o ioruba passou a ser a língua mais falada em Serra Leoa.
Juntamente com o reverendo Rahan, Crowther publicou três livros sobre o Ioruba.
Em 1843 publicou um livro intitulado Vocabulário Ioruba com o estudo gramatical da língua e sua estrutura.
Durante toda sua vida como religioso cristão, Crowther dedicou-se  à tradução da Bíblia para a língua ioruba.
A Bíblia em ioruba, Bibeli Mimá, foi publicada na década de 1880.
Assim, chegamos ao ponto do trabalho de Crowther que nos influencia até os dias de hoje.
Crowther, para que os iorubanos entendessem a religião cristã e seu novo testamento forçou algumas analogias.
Podemos notar que no evangelho de Mateus, cuja reprodução encontra-se no material em anexo, capítulo 4 (na Bíblia em ioruba consta como ori 4), versículo 1 (primeira frase) consta: 
“Em seguida, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo”.
Crowther torna oficial a tradução de Exu para diabo, satanás.
Todo o povo ioruba que manteve contato com as obras dele, bem como todo o clero da Igreja Anglicana, passa a utilizar a palavra Exu para designar o diabo.
Havia um homem, Crowther, bispo anglicano e com doutorado em Oxford que fundamentava esta associação.
Sabemos que a tradução de um livro extenso como a Bíblia exige um certo número de pessoas.
De certo, Crowther possuía colegas de trabalho ou ajudantes com o qual mantinha constante diálogo e troca de opiniões sobre as palavras corretas a serem utilizadas para compor a tradução de um livro tão sagrado quanto a Bíblia.
Para um bispo, a subversão dos ensinamentos de Deus era um sacrilégio.
Assim, Crowther agiu de acordo com suas crenças, de acordo com suas lembranças e nunca saberemos o real motivo desta indicação.
Não sabemos com exatidão se utilizou o sincretismo porque considerava Exu o diabo ou porque esta era a única solução que encontrou para demonstrar ao povo ioruba a essência do que estava ali escrito.
Por exemplo, Crowther traduziu Deus como Olorum.
Contudo, não traduziu Jesus como Oxalá.
Manteve aquilo que lhe era sagrado intacto e transformou os demais conceitos em material compreensível ao povo ioruba.
O sincretismo de Exu com o diabo, neste caso, ocorreu de fora da religião para dentro.
Será que a Bíblia que nos é apresentada hoje, após inúmeras traduções realizadas das diversas línguas originais de seus textos, é fidedigna?
Cremos que não.
O que foi perdido ou subvertido?
Os sacerdotes africanos participantes das religiões de culto aos antepassados, das regiões de Angola e do Congo, chamados de Kimbanda e Nganga, respectivamente ao manterem contato com os colonizadores europeus traziam no seu imaginário os conceitos de feitiçaria e práticas mágicas e acabou por ressignificar os seus costumes religiosos.
Os sacerdotes desses cultos, acabaram sendo vistos como feiticeiros e praticantes de magias negras.
Ao lado desse rótulo externo, os cultos, dirigidos pelo Kimbanda e Nganga, foram se transformando, através de uma dinâmica cultural com as religiões e religiosidades europeias e indígenas, gerando cultos como a cabula, o calundu e a macumba, que no século XX, formaram matrizes religiosas como a Umbanda.
Pelas sete estrelas que escurecem o firmamento, pelo despertar dos gigantes que adormecem abaixo dos vulcões, pelas lagrimas de sangue que escorrem dos meus olhos, estarei sempre em ti, jorrando as aguas adocicadas do eterno saber.
Sou a volúpia do seu espirito enegrecido e as sensações de prazer que vives em tuas vitorias.  
Sou o anoitecer doa amantes e a harpa dos iludidos, sou o princípio e o fim dos poucos que possuem espirito.
Sou a águia negra que te enxerga do alto e a serpente invisível que lhe espreita em todas as horas.
Sou a Coroa e o Cetro.
Sou Maioral de todos os Infernos!

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

laroyê Eshu Lúcifer







Vossa Alteza Lúcifer

Laroyê Eshu Lúcifer

É o Ícone flamejante da evolução a emanar a verdadeira luz.
O que guia os adeptos da Quimbanda Brasileira.  
O significado do nome Lúcifer é “portador da luz”.
Sua origem vem do hebraico e do grego que foram substituídos em uma tradução para o latim pela palavra “lucífer” “luciferi”
Sabe-se que os romanos cultuavam os astros na forma de deuses e deusas, lucífer era uma palavra que designava a luminosidade e esotericamente estava associada a aparição matutina de Vênus.
Em resumo podemos dizer que Lúcifer seria o condutor da luz solar pela aurora, ou ainda, a força que ilumina pós escuridão.  
Curiosamente Lúcifer não era um nome próprio e sim um adjetivo usado nas traduções como qualidade de “portador de luz”, empregado com o próprio Jesus.
O “Portador da Luz” é uma força não estática que motiva a imaginação, o intelecto e a evolução espiritual.
Ele desperta-nos para realidade da escravidão, dor e alienação a que somos submetidos vida após vida.
Como um fogo consumidor, transforma todas as ilusões em cinzas queimando nossas debilidades e fragilidades.
Lúcifer é o opositor de frágeis estruturas e sua força dissipa as mentiras.
É sabedoria, iluminação, é o fogo libertador que destrói a ingenuidade.
Quando a quimbanda brasileira louva a Lúcifer, esta louvando à sua face mais benevolente.
E Lúcifer nos oferece os sagrados mistérios, permitindo aos homens a deificação através da chama negra manifestada dentro do “eu”.
Dentro de nossa tradição Lúcifer é o “Portador da Gnose”. A ação de conhecer, o conhecimento, a ciência, a sabedoria cuja força age como fonte para todos os Exus e Pombagiras.
E através da sabedoria proibida é o portal para manifestação espiritual em busca de iluminação e purificação mental através da incineração de velhos conceitos.
Exu Lúcifer não tem um reino especifico, pois responde e possui autoridade de realeza em todos os reinos. Não ultrapassa o limite de Rei algum, apenas enobrece ainda mais os planos em que exerce suas funções.

Satanás
Satanás,
Lúcifer    
É Satanás
Deu meia noite
Sete facas encruzadas
Em cima de uma mesa
Quem atirou
Foi Lúcifer
Para mostrar
Quem ele é!
Passeando na Kalunga
Encontrei uma vela acesa
Pedi agô das almas 
E segui o meu caminho
Saudei o povo do cruzeiro
E uma luz apareceu
Escutei uma linda voz
E o meu corpo tremeu
Era o senhor Lúcifer
Que vinha abençoar
O ato de minha fé
Saudei
Seu Lúcifer
Saudei
Saudei a Luz
Do meu Senhor
Eu vim para saravar
A Quimbanda
Lúcifer que comanda
O toque do tambor!
Ponto cantado
É uma linda oração
Mostra a fé do Quimbandeiro
Seu amor e devoção
Lúcifer não é um anjo,
Lúcifer é maioral
Seu trono é de ouro
E seu garfo é fatal
Sua capa é a noite,
As palavras são a lei
Laroyê Exu Lúcifer
Na quimbanda também é Rei.



Alfavaca

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